Este não é um álbum country, é um álbum de Beyoncé.

Precisamos Falar Sobre:
5 min readMar 30, 2024

Desde 2013 com lançamento do álbum intitulado
“Beyoncé” que Beyoncé vem nos dando aulas sobre como parar
o mundo e quebrar a internet. Em 2016 novamente, desta vez
com o aclamado “Lemonade”. 2022 foi a vez de “Renaissance”
e agora, em 2024 temos “Cowboy Carter”.

Desde 2013 com lançamento do álbum intitulado
“Beyoncé” que Beyoncé vem nos dando aulas sobre como parar
o mundo e quebrar a internet. Em 2016 novamente, desta vez
com o aclamado “Lemonade”. “Black Is King” chegou ao mundo em 2020. 2022 foi a vez de “Renaissance” e agora, em 2024, temos “Cowboy Carter”.

“A vida me deu limões e eu fiz uma limonada.”

dizia a avó de Beyoncé no trecho de um discurso utilizado no clipe da música “All Nigth” do álbum Lemonade, que nos explica o porquê do nome
do álbum já que, na época, a vida pessoal da cantora e seu casamento estavam nos holofotes por conta de traições da parte de seu marido e ela expõe isso em algumas faixas do álbum. Mas além das traições, houve outros limões dados pela vida que a artista também transformou em uma limonada: todo o racismo da sociedade e tudo o que foi aflorado dele com a era Trump, nas faixas “Freedom” com o rapper Kendrick Lamar e é claro, o
hino “Formation”.

Além dos citados, uma outra faixa chamou bastante atenção, pois trazia Beyoncé se aventurando em algo novo. Na faixa “Daddy Lessons” temos uma introdução do que veríamos esse ano com Cowboy Carter, pois é uma faixa que faz referência ao gênero country. Por conta dessa faixa, Beyoncé foi convidada para a cantar ao lado do trio country The Dixie Chickis na premiação Country Music Awards em 2016.

De lá pra cá muitas coisas aconteceram entre elas, o lançamento do album “Renaissence” em 2022, o primeiro ato de uma trilogia onde Beyoncé mergulha nas origens da dance music fazendo um resgate na influência de pessoas artistas negros no gênero que nunca foram devidamente reconhecidos. Por ser uma trilogia, já era esperado que o segundo ato também fosse seguir a linha de resgate histórico o que não esperávamos
era o motivo disso tudo.
Beyoncé realmente aprendeu com sua avó a fazer limonadas com os limões que a vida lhe dá e, depois do lançamento do segundo ato, a artista revelou que a inspiração de gravar um álbum que faz referências a conutry music se deu a partir de uma experiência ruim pela qual passou anos atrás. O episódio a fez entrar de cabeça no assunto e estudar durante anos, onde aprendeu, que mais uma vez, os pioneiros do gênero foram artistas negros nunca reconhecidos pelo público e indústria.
O episódio em questão foi a apresentação de 2016 na premiação mais importante da música country ao lado das Dixie Chickns. O gênero musical é um dos mais formosos, rentáveis e reverenciados no mundo, mais ou menos como o sertanejo no Brasil. E assim como o sertanejo, uma boa parte ou grande parte de seus realizadores e público, tem opiniões e aspectos conservadores. O trio, formado por mulheres, era um dos mais
famosos no gênero, no início dos anos 2000, mas após uma declaração contra o presidente dos EUA na época, o que fez com que fossem canceladas, sofressem ataques e fossem esquecidas. Mas em 2016, voltaram a mídia ao se apresentarem com Beyoncé, que, por conta do recente lançamento de “Formation”, que fazia referência a violência policial contra a população negra, também havia cancelada.

A apresentação pegou todo mundo de surpresa e antes mesmo do show, muita gente já estava criticando, afinal, Beyonce é uma artista pop e mesmo após a premiação, que foi aclamada pela crítica, as polemicas e críticas continuaram. As cantoras do Dixie Chickins falaram em algumas entrevistas que foram maltratadas desde a divulgação da apresentação do
evento, mas que já estavam acostumadas com isso e que a maneira que trataram a Beyoncé foi “horroroso e nojento”. Ela, porém, nunca se pronunciou diretamente sobre o assunto, mas sempre houve uma consciência de que sim, a cantora saiu traumatizada com a experiência e após o lançamento do álbum ficou explicito.
Cowboy Carter é mais uma limonada feita por Beyoncé, segundo ela, a ideia do álbum partiu de um acontecimento onde ela não se sentiu se acolhida e que claramente não foi, então, foi estudar sobre o assunto para lançar o álbum. Ao estudar, mais uma vez, descobriu e fez referência aos criadores do gênero, a pessoas que foram roubadas, não valorizadas…
A limonada de Bey, mais uma vez, faz mais do que ressignificar uma experiência pessoal ruim, ela ressignifica a história. Ela se apropria da arte e devolve ela ao mundo mostrando seus verdadeiros donos. Ela mostra com propriedade, classe, conhecimento que sim, ela pode, deve e vai estar nesses lugares, onde deveríamos estar desde sempre, de onde nunca deveríamos ter saído.
E é por isso que esse não é um álbum country, é um álbum de Beyoncé, pois desde o lançamento de “Beyoncé” em 2013, com “Lemonade” de 2016, “Black Is King” de 2020, “Renaissance” de 2022, são vários atos de um proposito maior, não são só gêneros para serem explorados, são histórias a
serem contadas, são limonadas com os limões da injustiça e exploração e são álbuns de Beyoncé, reescrevendo e “renascendo” a história.

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Precisamos Falar Sobre:

“Da leitura era preciso tirar outra sabedoria. Era preciso autorizar o texto da própria vida, assim como era preciso a construir a história dos seus.”